IntroduÃÂçÃÂão Os fetiches sÃÂão uma temÃÂática recorrente nos dias de hoje.
AlÃÂém de ser um tema fecundo ÃÂé interessante constatarmos que todos nÃÂós temos um pouco de fetichistas embora nÃÂão o sejamos da mesma maneira aguda, como se descreve nalguns casos ao longo do trabalho.
De certa forma ÃÂé no fetichismo que encontramos o escape para faltas que vÃÂão afectando o ser humano ao longo da sua existÃÂência.
O aparecimento dos media veio ajudar a implementar e desenvolver o lado fetichista de cada um de nÃÂós (em maior ou menor grau de afectaÃÂçÃÂão). A visÃÂão sobrepÃÂõe-se àaudiÃÂçÃÂão, a audiÃÂçÃÂão ao olfacto e assim por diante. Os conteÃÂúdos televisivos suscitam o gosto pelas botas e cano alto, o piercing no umbigo, o corpo tatuado...
A intenÃÂçÃÂão do presente trabalho ÃÂé abordar o maior nÃÂúmero possÃÂÃÂvel de linhas condutoras e pontos de vista dos mais diversos autores que ao longo dos anos foram compondo a histÃÂória do fetichismo.
Alguns sÃÂão ou foram terapeutas, outros foram espectadores atentos que conseguiram reunir material com substÃÂância e credibilidade para determinar as linhas do fetichismo, desenvolver terapias e criar toda uma panÃÂóplia de bibliografia para os potenciais seguidores e interessados da e na matÃÂéria.
Fetichismo - definiÃÂçÃÂão o fetichismo estÃÂá integrado no grupo das parafilias, ou desvios sexuais, onde se encontram o sadomasoquismo, o voyeurismo e o exibicionismo.
Enquanto parafilia o fetichismo estÃÂá condicionado por um grupo de distÃÂúrbios psico-sexuais em que sÃÂão necessÃÂários objectos, com funÃÂçÃÂões atÃÂÃÂpicas para que haja excitaÃÂçÃÂão sexual, atravÃÂés de um estÃÂÃÂmulo que nÃÂão ÃÂé socialmente aceite, e a partir do qual se dÃÂá uma resposta obsessiva e dependente que permite, ao fetichista, atingir o orgasmo.
De acordo com a obra de John Bancroft o fetichismo estÃÂá incluÃÂÃÂdo numa das quatro formas de comportamento sexual das quais fazem parte o sado-masoquismo, o travestismo e a transsexualidade. A homossexualidade ÃÂé considerada de uma forma separada, na medida em que, ÃÂé numericamente mais significante mas tambÃÂém porque envolve uma relaÃÂçÃÂão sexual.
Raymond Corsini descreve o fetichismo como uma condiÃÂçÃÂão patolÃÂógica que liga o fetichista a determinadas partes do corpo, que nÃÂão as genitais, ou a peÃÂças de vestuÃÂário usadas como objecto de ligaÃÂçÃÂão. Para este autor existem tipos de fetichismo como a amputaÃÂçÃÂão, os pÃÂés, objectos vÃÂários e os sapatos.
O fetichismo pode, ainda, ser considerado um condicionamento primitivo que leva àescolha de um objecto ou uma parte do corpo (tal como em todos os humanos se consegue detectar uma zona de eleiÃÂçÃÂão no corpo do parceiro). A diferenÃÂça para um fetichista reside precisamente neste ponto: ele nÃÂão precisa do corpo do seu parceiro para obter prazer sexual mas um objecto apenas.
O fetichismo ÃÂé concretizado quando alguÃÂém realiza o transfer da libido do ego para o objecto.
A relaÃÂçÃÂão no fetichismo ÃÂé, no final, uma relaÃÂçÃÂão de poder em que o perverso demonstra a sua vontade de poder. A sua frase tÃÂÃÂpica ÃÂé "Antes de me deixar ir no prazer, ÃÂé preciso que demonstre o meu poder" . Esta perspectiva leva a que o fetichista deseje aumentar o seu poder e reduzir o outro a um mero objecto inanimado mesmo que conserve com ele um laÃÂço de infÃÂância - o que permite o perverso rebaixar ou espezinhar o "objecto" sem que este o acuse.
Mais uma vez vemos confirmada a forte presenÃÂça de fetichistas masculinos em detrimento dos fetichistas femininos. Isto deve-se ao facto de os homens serem mais facilmente condicionados pelas suas experiÃÂências sexuais e por objectos relacionados, directa e indirectamente, com as mesmas.
Para Joyce McDougal o fetichismo ÃÂé o "protÃÂótipo de todas as formaÃÂçÃÂões perversas" que a princÃÂÃÂpio possui uma identidade prÃÂópria que dÃÂá origem àidentidade sexual. ÃÂ⬠medida que se avanÃÂça na investigaÃÂçÃÂão destes casos conclui-se que ele tenta apenas encontrar novas soluÃÂçÃÂões para o seu desejo, com todas as complicaÃÂçÃÂões edipianas que daÃÂàadvÃÂêm.
A recusa e a negaÃÂçÃÂão provocam um vazio, uma angustia de castraÃÂçÃÂão que se dÃÂá na fase fÃÂálica seguida da ausÃÂência do objecto e que vai despoletar todo um processo de perversÃÂão.
Em Joyce encontramos uma perspectiva freudiana que o fetiche ocupa o lugar de um objecto interno que quando danificado necessita da sua "reparaÃÂçÃÂão" constante atravÃÂés da cena sexual perversa e, por isso, castrar, humilhar e renegar o pai faz parte deste processo.
A cada acto perverso corresponde uma "cena primitiva condensada", uma cena completada com objectos simbÃÂólicos e inanimados cuja representaÃÂçÃÂão serve para preencher o referido vazio interior.
Hanna Segal coloca o fetichismo numa base de criaÃÂçÃÂão infantil em que a crianÃÂça tende a criar sÃÂÃÂmbolos que a ajudam a superar os primeiros conflitos com que se depara.
Sydney Stewart diz-nos que o fetiche deve ser dominado, palpÃÂável, visÃÂÃÂvel, inanimado e quase indestrutÃÂÃÂvel pois a sua relaÃÂçÃÂão com o ritual do fetichista pode variar - de sujeito para sujeito. O curto espaÃÂço e tempo que separa as prÃÂáticas destes perversos faz sentido quando se percebe que elas sÃÂão uma fonte de auto-seguranÃÂça sexual e corporal: sÃÂão elas que permitem o domÃÂÃÂnio da masturbaÃÂçÃÂão compulsiva. A masturbaÃÂçÃÂão e a formaÃÂçÃÂão do sintoma revelam como o Eu funciona ao tentar conciliar-se com os impulsos do Id e as exigÃÂências da realidade e da identificaÃÂçÃÂão sexual.
Sydney descreve o caso de um dos seus pacientes: "O fetiche do meu paciente, Jacob R., ÃÂé uma pÃÂêra de lavagem cheia de ÃÂágua muito quente. As palavras do doente sÃÂão as seguintes: "Basta-me pensar numa pÃÂêra de lavagem cheia de ÃÂágua e transbordando para ter uma erecÃÂçÃÂão e sentir uma tal excitaÃÂçÃÂão que tenho necessidade de ir a uma casa de banho para me masturbar". Jacob apercebe-se de que a estimulaÃÂçÃÂão visual da pÃÂêra remonta jÃÂá às suas primeiras recordaÃÂçÃÂões e que o actual ritual masturbatÃÂório nela centrado e a administraÃÂçÃÂão da lavagem comeÃÂçou pela idade dos nove ou dez anos." Para este paciente a pÃÂêra de lavagem e o seu conteÃÂúdo desempenha o papel de fetiche e ÃÂé esta que vai substituir o pÃÂénis fÃÂálico que estÃÂá sempre presente, quer na realidade quer no fantasma.
ÃÂ⬠laia de conclusÃÂão acerca do que acontece com o fetichismo constata-se uma renÃÂúncia parcial ao investimento sexual dos pais. O fetichista tenta preservar um objecto, apoiado na negaÃÂçÃÂão da diferenÃÂça sexual, que deveria renunciar (mÃÂãe), para poder manter uma determinada identificaÃÂçÃÂão com o pai desenvolvendo o desejo homossexual pelo seu progenitor. A castraÃÂçÃÂão erotizada e fantasmÃÂática significam o acto sexual em si e permitem a restauraÃÂçÃÂão mÃÂágica do pÃÂénis-falo. Os rituais fetichistas tÃÂêm um papel duplo, isto ÃÂé, o espectador sÃÂádico vÃÂê-se reflectido no espelho pela vÃÂÃÂtima masoquista, que testemunha a influÃÂência que o Supereu e o narcisismo exercem nessa perversÃÂão.
Christian David foca a desgenitalizaÃÂçÃÂão dizendo que esta ÃÂé conseguida quando o fantasma prima sobre a realidade, o afecto sobre a percepÃÂçÃÂão e o acto, e os processos internos sobre as relaÃÂçÃÂões de objecto. A heranÃÂça patolÃÂógica de ÃÂâ°dipo ÃÂé reduzida, segundo Freud, a "um fenÃÂómeno rudimentar insÃÂólito" e, por outro lado, hÃÂá uma infiltraÃÂçÃÂão mais ou menos sensÃÂÃÂvel e extensiva da psicossexualidade atravÃÂés do investimento oral e autoerÃÂótico. ÃÂâ° assim que se consegue entender que analogias hÃÂá entre o perverso afectivo e o onanismo compulsional ou anorÃÂéxico na medida em que tudo se passa num plano de masturbaÃÂçÃÂão e num contexto marcado pela impotÃÂência ou frigidez, pela regressÃÂão oral e o desgosto.
A energia libininal nas perversÃÂões, segundo Christian, ÃÂé tambÃÂém uma energia agressiva e quando ÃÂé provocada pela masturbaÃÂçÃÂão psÃÂÃÂquica tende a deixar uma parte da mente livre de estigmas regressivos. Assim, em tudo o que nÃÂão diga respeito àsatisfaÃÂçÃÂão de instintos, a relaÃÂçÃÂão do perverso com a realidade pode equiparar-se àrelaÃÂçÃÂão que as personalidades ditas "normais" tambÃÂém estabelecem.
Ismond Rose atribui trÃÂês caracterÃÂÃÂsticas às perversÃÂões sexuais sendo a primeira estereotipada quanto àsua natureza, tempo e lugar e ÃÂé muito difÃÂÃÂcil encontrar nesta uma utilidade. Outra caracterÃÂÃÂstica ÃÂé aquela em que o indivÃÂÃÂduo se expÃÂõe e corre o risco de ser descoberto mas que nÃÂão se sente preocupado com tal e a ÃÂúltima caracterÃÂÃÂstica estÃÂá relacionada com as falhas da personalidade em que se evidencia a falta de correlaÃÂçÃÂão entre impulsos passivos e impulsos de auto-afirmaÃÂçÃÂão. Estas trÃÂês vertentes evidenciam as carÃÂências que o indivÃÂÃÂduo vai adquirindo ao longo da sua vida e, em especial, em relaÃÂçÃÂão aos seus progenitores.
Gillespie define perversÃÂão sexual como um desvio do comportamento sexual normal que acarreta a existÃÂência de um modelo de confronto que na realidade nÃÂão ÃÂé muito comum mas que, para ser considerada perversÃÂão, deve ser habitual no indivÃÂÃÂduo. Esta perversÃÂão ÃÂé um obstÃÂáculo considerÃÂável àprocriaÃÂçÃÂão e àvida familiar dado que o indivÃÂÃÂduo nÃÂão se interessa pela parceira mas antes por partes do seu corpo que vÃÂê como objectos passÃÂÃÂveis de lhe proporcionar prazer e satisfaÃÂçÃÂão sexual.
JÃÂá em Freud encontravam-se caracterÃÂÃÂsticas especÃÂÃÂficas que eram atribuÃÂÃÂdas a estes perversos, caracterÃÂÃÂsticas como a persistÃÂência e interactividade e o carÃÂácter de exclusividade cuja tendÃÂência era a de rejeitar uma relaÃÂçÃÂão sexual com uma pessoa adulta do sexo oposto.
Christian alonga-se acerca da perversÃÂão afectiva e aponta as suas diversas formas de expressÃÂão que verificou em alguns dos seus pacientes. Um deles apresentava uma satisfaÃÂçÃÂão viva e prolongada, que se repetia, ao apelar ao plano erÃÂótico ou amoroso embora estes sentimentos estivessem apriorÃÂÃÂsticamente votados àfrustraÃÂçÃÂão. Outros pacientes sentiam uma satisfaÃÂçÃÂão contida e abafada; o prazer que experimentavam tinha semelhanÃÂças com o prazer preliminar e parecia advir do crescendo da tensÃÂão do impulso e da descarga prÃÂópria da flutuaÃÂçÃÂão lenta de afectos. A conclusÃÂão a que Christian chega ÃÂé que qualquer transferÃÂência de afectos, principalmente os positivos, implica uma orientaÃÂçÃÂão perversa tanto pela sua prÃÂópria natureza da transferÃÂência como pela rigidez da canalizaÃÂçÃÂão e filtragem dessas manifestaÃÂçÃÂões.
As perversÃÂões afectivas sÃÂão, por isso, complexas e compostas por elementos que quase nunca se encontram reunidos nem contÃÂÃÂnuos mas da associaÃÂçÃÂão destes elementos vemos resultar, de um conjunto mÃÂórbido de factores, uma predisposiÃÂçÃÂão estrutural.
A finalidade a que a perversÃÂão afectiva se propÃÂõe mascara as suas origens e finalidades sexuais atravÃÂés do prÃÂóprio deslocamento dos objectos sensuais e erÃÂóticos visados para o registo do afecto puro com relaÃÂçÃÂão mais ou menos notÃÂória da genitalidade. Este deslocamento permite um delÃÂÃÂrio de desejo e remete para um duplo desvio e, consequentemente, uma duplicaÃÂçÃÂão na definiÃÂçÃÂão de perversÃÂão uma vez que toda a imaginaÃÂçÃÂão implica uma certa dose nostÃÂálgica que incita àcontinuidade entre o destino perverso comum e os casos perversos.
Em "Os trÃÂês ensaios sobre a teoria da sexualidade" Freud concebe que a ÃÂúnica diferenÃÂça entre "perversÃÂão", sexualidade normal e sexualidade dos neurÃÂóticos ÃÂé de ordem quantitativa, assim o que distingue cada caso ÃÂé a disposiÃÂçÃÂão qualitativa do psiquismo. ÃÂâ° nesta altura que Freud distingue "perversÃÂões positivas" e "perversÃÂões negativas" em que as primeiras estÃÂão relacionadas com a linguagem psiquiÃÂátrica e as segundas tÃÂêm a ver com as neuroses.
Mais tarde o mesmo autor escreve que a perversÃÂão ÃÂé o positivo da neurose porque a perversÃÂão supÃÂõe a negaÃÂçÃÂão da castraÃÂçÃÂão e da diferenÃÂça entre os sexos. A propensÃÂão que o perverso sexual tem para expulsar os fantasmas para o exterior transforma-se, no perverso afectivo, na tendÃÂência de representÃÂá-los (os fantasmas) e re-representÃÂá-los no seu interior. O local onde instala a sua cena nÃÂão ÃÂé visÃÂÃÂvel, ele prefere instalÃÂá-la no espaÃÂço interior onde pode representar, onde o que o move nÃÂão saberia tomar forma e nem poderia ser passÃÂÃÂvel de figuraÃÂçÃÂão ou de simbolizaÃÂçÃÂão de per si.
A perversÃÂão afectiva supÃÂõe um desvio especÃÂÃÂfico e produz-se devido a um investimento primÃÂário dos processos psÃÂÃÂquicos ligados, segundo Freud, a uma satisfaÃÂçÃÂão alucinatÃÂória do desejo e, por isso, ligada às insuficiÃÂências dos prazeres imaginados obtidos em compensaÃÂçÃÂão da falta de satisfaÃÂçÃÂão concreta.
Winnicott salienta que a posiÃÂçÃÂão do analista em relaÃÂçÃÂão ao perverso afectivo ÃÂé bivalente no sentido em que o primeiro se sente englobado no movimento do segundo ao mesmo tempo que sente que ÃÂé afastado e assim mantido, por um lado, e por outro ÃÂé requisitado para participar num projecto frÃÂágil e delicado ao mesmo tempo que ÃÂé recusado enquanto testemunha. Se o analista opta pela neutralidade observa-se "uma espÃÂécie de celebraÃÂçÃÂão invisÃÂÃÂvel e misteriosa, a consumaÃÂçÃÂão de um estranho ritual ÃÂÃÂntimo" - como serÃÂá o ritual onanista exibicionista, por exemplo. Este ritual ÃÂé repetitivo, como jÃÂá foi anteriormente referido por outros autores, e ÃÂé uma repetiÃÂçÃÂão disfarÃÂçada pois trata-se dos estados da psiquÃÂé que substituem a imagem do pai e da mÃÂãe bem como a da vivÃÂência fantasmÃÂática e inconsciente da sua relaÃÂçÃÂão.
Grunberger diz que domÃÂÃÂnio do objecto equivale a privÃÂá-lo da sua autonomia para assim poder castrÃÂá-lo o que leva àaquisiÃÂçÃÂão de um pÃÂénis no plano do inconsciente. As relaÃÂçÃÂões essencialmente sÃÂádico-anais atribuem mais importÃÂância àrelaÃÂçÃÂão que desenvolvem e mantÃÂêm com ele e forÃÂças que vÃÂão permitir o domÃÂÃÂnio do objecto e nÃÂão tanto ao objecto em si.
A tentativa de concretizar o fantasma traduz-se na realizaÃÂçÃÂão de pequenas orgias que permite o investimento nos fantasmas masturbatÃÂórios.
Fetichismo: definiÃÂçÃÂão freudiana Freud considera o fetichismo uma perversÃÂão e, como tal, resulta de um complexo de ÃÂâ°dipo mal resolvido que, por isso, remete para as primeiras relaÃÂçÃÂões prÃÂé-genitais entre mÃÂão e filho.
Em 1927 ele descreve o fetichismo como factor estruturante do psiquismo e com um alcance muito mais extenso do que a especificidade de uma estrutura particular Quando a crianÃÂça descobre o "sexo castrado" da sua mÃÂãe tenta criar um substituto fantasioso para o falo materno.
O trauma causado tÃÂão prematuramente ÃÂé o efeito produzido pelo Eu que se sente ameaÃÂçado sempre que do Id se vÃÂê confrontado com a realidade. A escolha de um mecanismo de defesa, feito pelo Eu, visa a conciliaÃÂçÃÂão com o conflito e reflecte um certo perÃÂÃÂodo de desenvolvimento no qual o instinto da libido ÃÂé estÃÂável perante a ameaÃÂça activa e contÃÂÃÂnua do traumatismo.
A escolha do fetiche estÃÂá ligado àmarca emocional referente àdescoberta da "castraÃÂçÃÂão" feminina. A frequente escolha de peÃÂças de vestuÃÂário feminino estÃÂá ligado ao momento ÃÂúltimo em que ainda tem esperanÃÂça de ver o falo materno. ÃÂâ° a partir deste momento que o fetiche comeÃÂça a fazer parte da vida sexual e a ser a peÃÂça chave que permite o prazer.
Na fase fÃÂálica ÃÂé escolhido o objecto, exterior àpessoa, com base em componentes instintivas que dominam a organizaÃÂçÃÂão prÃÂé-genital e que sÃÂão impulsos erÃÂóticos anais sÃÂádicos. Nesta fase o fetichista recua perante o complexo de ÃÂâ°dipo mas a sobrevalorizaÃÂçÃÂão fÃÂálica narcisista manifesta-se e assiste-se a uma projecÃÂçÃÂão do rapaz sobre o pai.
A mulher fÃÂálica tem um cariz bivalente: ÃÂé produto do amor e de ÃÂódio na relaÃÂçÃÂão erÃÂótico-anal. A mÃÂãe e o pÃÂénis todo poderoso que lhe foi atribuÃÂÃÂdo no fantasma esconde a realidade da castraÃÂçÃÂão dos ÃÂórgÃÂãos femininos bem como uma exigÃÂência narcÃÂÃÂsica. O fetichista nega a castraÃÂçÃÂão dos ÃÂórgÃÂãos genitais da mÃÂãe mas esta castraÃÂçÃÂão tem factores exÃÂógenos porque o medo da castraÃÂçÃÂão, devido a factores endÃÂógenos, ÃÂé tido como uma puniÃÂçÃÂão do desejo o que permite negar a existÃÂência da autocastraÃÂçÃÂão.
O objecto excitante enquanto fetiche verifica-se quando a dor ÃÂé infligida por uma extensÃÂão de objectos erotizados que batem no indivÃÂÃÂduo permitindo o prazer sexual tanto na masturbaÃÂçÃÂão como com um companheiro. Aqui a flagelaÃÂçÃÂão funciona como um acessÃÂório para estimular o acto sexual em si mantendo-se como o principal elemento do fantasma.
Quando os indivÃÂÃÂduos desenvolvem rituais em que a masturbaÃÂçÃÂão ÃÂé frequente, a utilizaÃÂçÃÂão de fetiches ÃÂé de capital importÃÂância e as suas virtudes sÃÂão particularmente aprazÃÂÃÂveis porque o fetiche ÃÂé um objecto nÃÂão sexual mas estÃÂá intimamente associado ao corpo e deve ser bivalente no sentido de poder ser utilizado por ambos os sexos.
A transformaÃÂçÃÂão da escolha de um determinado objecto erotizado, numa alteraÃÂçÃÂão do Eu, pode levar a um aprofundamento das relaÃÂçÃÂões com o Eu porque a modificaÃÂçÃÂão ocorre antes do abandono do objecto ou porque a relaÃÂçÃÂão do objecto sobrevive e ÃÂé conservada. Nas perversÃÂões existem outras formas de compromisso entre o Supereu e o Eu por causa das deslocaÃÂçÃÂões da culpabilidade sobre outras dificuldades mais quotidianas, como o trabalho, por xemplo.
Para Freud o fetichismo ÃÂé visto como uma protecÃÂçÃÂão contra a homossexualidade porque o substituto do pÃÂénis fÃÂálico estÃÂá presente tanto na realidade como no fantasma e a homossexualidade ÃÂé perceptÃÂÃÂvel estando, apenas, disfarÃÂçada.
No princÃÂÃÂpio o investimento do objecto e a identificaÃÂçÃÂão nÃÂão se podem distinguir um do outro por isso o investimento no objecto ou a identificaÃÂçÃÂão nÃÂão estÃÂão ligados com o objecto total mas com o objecto dividido em que a representaÃÂçÃÂão simbÃÂólica consciente estÃÂá representada pelo Supereu - por isso o Supereu desempenha um papel fundamental no fetichismo. Mesmo que haja uma regressÃÂão por parte do paciente e este regresse a um estÃÂádio anterior do complexo de ÃÂâ°dipo o Supereu mantÃÂém-se e acompanha o paciente na "viagem regressiva".
Nas pacientes que Freud observou, o fantasma do pai estÃÂá presente quando elas dizem que o pai bate em alguÃÂém de quem elas nÃÂão gostam; neste caso o significado latente ÃÂé o de que o pai bate na outra pessoa e a mensagem filtrada que chega àconsciÃÂência ÃÂé o contrÃÂário do conteÃÂúdo masoquista tornado sÃÂádico.
Quer o fetichista bata na sua companheira que detÃÂém o fetiche quer ele seja torturado pela pessoa fetichista, os fantasmas mantÃÂêm-se os mesmos apesar de haver uma permuta de papÃÂéis.
A tendÃÂência para a repetiÃÂçÃÂão ÃÂé o elemento mais evidente no fetichismo e no masoquismo daÃÂàque as cenas sejam constantemente recriadas atravÃÂés da compulsÃÂão visando criar tensÃÂão e a consequente resoluÃÂçÃÂão desta atravÃÂés da dor. A dor permite recriar uma visÃÂão narcisista e sedimenta-a atravÃÂés da humilhaÃÂçÃÂão dor-amor e punindo os desejos incestuosos ao passo que a dor fÃÂÃÂsica ÃÂé o sÃÂÃÂmbolo orgÃÂástico e, numa situaÃÂçÃÂão de perversÃÂão masoquista, pode vir a substitui-lo. O acto de provocar dor-amor ÃÂé tido como uma forma de dominar o objecto e o obrigar a expressar o seu amor atravÃÂés da dor.
O Eu estÃÂá intimamente ligado com a formaÃÂçÃÂão de defesas embora ainda esteja um pouco imaturo no que concerne a objectos transicionais e, por isso, nÃÂão permite a formaÃÂçÃÂão de um fetiche autÃÂêntico. Esta perversÃÂão estabelece-se a nÃÂÃÂvel fÃÂálico sÃÂádico-anal quando hÃÂá uma regressÃÂão no conflito edipiano mas os problemas do estÃÂádio oral permitem enfrentar esse conflito.
Fetichismo - Kinsey Report Kinsey chama fetichista ao homem que reage a objectos totalmente independentes do corpo do parceiro como roupas, meias, sapatos, ligas, mobÃÂÃÂlias e determinados tipos de tapetes. Quanto mais afastados estiverem estes objectos, da mulher com quem tem relaÃÂçÃÂões sexuais, mais se acentua a sua natureza feiticista. Mas este objecto tem que ser necessÃÂário , ou mesmo indispensÃÂável, para poder ser classificado de parafilia e sÃÂó pode ser visto como um problema se causar dificuldades matrimoniais, sociais ou dificuldades legais.
No seu famoso trabalho a que correntemente se dÃÂá o nome de Kinsey Report a temÃÂática do fetichismo vem incluÃÂÃÂda no capÃÂÃÂtulo das parafilias. Numa primeira abordagem Kinsey descreve a resposta comportamental de um homem quando vÃÂê a sua esposa vestida de preto ou com roupa interior de renda como uma resposta que reforÃÂça as relaÃÂçÃÂões interpessoais e, por isso, ÃÂé uma resposta normal. No entanto, este tipo de comportamento pode vir a ser um problema quando envolve a necessidade de um objecto ou um comportamento particulares para o indivÃÂÃÂduo se excitar e satisfazer, porque este tipo de resposta interfere, directamente, com o desenvolvimento e manutenÃÂçÃÂão da relaÃÂçÃÂão ÃÂÃÂntima entre duas pessoas.
O significado atribuÃÂÃÂdo àpalavra fetiche ÃÂé "objecto com poderes mÃÂágicos" como as cuecas das mulheres, os soutiens, meias, ou partes do corpo como o cabelo, seios e pÃÂés. Outros tipos de fetiches apontados sÃÂão os que envolvem excitaÃÂçÃÂão sexual como ÃÂé o caso das texturas como a borracha, o latex ou peles mas tambÃÂém os que tÃÂêm a ver com determinado tipo de odores tabu ou excreÃÂçÃÂões corporais - fezes e urina.
Os referidos "objectos com poderes mÃÂágicos" eram usuais nas culturas tradicionais e funcionavam como objectos cujas funÃÂçÃÂões eram as de amuletos usados para dar sorte ou para proteger.
Alguns dos fetiches tÃÂêm origem, segundo o autor, na infÃÂância e seria o caso de depender de fraldas ou usar cuecas plÃÂásticas para permitir a excitaÃÂçÃÂão e/ou orgasmo.
Quanto ao objecto sexual em si pode ser usado pelo parceiro sexual, pelo prÃÂóprio perverso ou ser o simples olhar ou tocar algo enquanto ele se masturba sem nenhum parceiro presente.
Kinsey evidencia a discrepÃÂância de perspectivas entre o fetichista e a sociedade. Isto porque a sociedade presume que a maior parte dos homens se excita quando olha para os seios femininos e nÃÂão vÃÂê esta da mesma maneira que vÃÂê a situaÃÂçÃÂão de um homem que precisa que lhe urinem em cima para se sentir excitado.
Para Kinsey o fetichismo ÃÂé mais conhecido nos homens porque os estudos tÃÂêm incidido nos mesmos mas tambÃÂém porque a pesquisa ÃÂé feita tendo por base pacientes clÃÂÃÂnicos, ou seja, baseia-se em indivÃÂÃÂduos que estÃÂão em terapia e que estiveram ou ainda estÃÂão presos. O facto dos homens se excitarem mais facilmente tanto visual como odoriferamente em relaÃÂçÃÂão às mulheres explica, em parte, o motivo pelo qual ÃÂé mais fÃÂácil adquirir um fetiche que estÃÂá integrado e domina o seu mapa amoroso. Mesmo assim a maior parte dos clÃÂÃÂnicos crÃÂê, baseados em diversas pesquisas, que o fetichismo ÃÂé muito mais raro nas mulheres que nos homens.
O autor acrescenta que este ÃÂé um comportamento sexual de que sÃÂó se tem conhecimento quando os fetichistas chamam a atenÃÂçÃÂão sobre si devido a problemas com as autoridades ou a qualquer outra dificuldade. MÃÂédicos, terapeutas e juizes tÃÂêm conhecimento de comportamentos sexuais fetichistas em trÃÂês situaÃÂçÃÂões: quando o parceiro do fetichista se recusa a colaborar e o casamento sofre, negativamente, com isso; quando o objecto do fetiche se torna tÃÂão especÃÂÃÂfico que a dificuldade para o obter aumenta; quando o perverso comeÃÂça a ficar preocupado acerca da sua identidade sexual ou com a "normalidade".
Kinsey acrescenta que ÃÂé possÃÂÃÂvel um homem ao concretizar um fetiche se sentir mais recompensado e satisfeito do que se o mesmo tiver relaÃÂçÃÂões sexuais com uma mulher. Este comportamento explica-se atravÃÂés de casos clÃÂÃÂnicos em que se verifica que muitas pessoas obtÃÂêm maior prazer sexual se interagirem com um objecto especÃÂÃÂfico em vez de um parceiro.
NÃÂão ÃÂé raro um homem sentir-se mais excitado sexualmente se a sua mulher se for deitar com uma roupa determinada, que ambos vestem como sinal para o outro saber quando gostava de ter relaÃÂçÃÂões sexuais, do que se ela for vestida com uma outra roupa qualquer. Mas se o homem nÃÂão estiver interessado na mulher a nÃÂão ser que ela vista essa peÃÂça de roupa particular, ou se ele preferir olhar apenas essa dita peÃÂça pode-se, entÃÂão, considerar um caso de fetichismo.
Fetichismo - determinantes Acredita-se que o fetichismo resulta do condicionamento da resposta sexual a um determinado estÃÂÃÂmulo sexual .
John Bancroft estabelece uma comparaÃÂçÃÂão quando diz que a capacidade que os homens tÃÂêm de condicionar a sua erecÃÂçÃÂão, da forma tradicional, em relaÃÂçÃÂão a um estÃÂÃÂmulo ou objecto pouco usual, revela uma erecÃÂçÃÂão como resultado de uma resposta condicionada. A ausÃÂência de algo genitalmente equivalente nas mulheres demonstra que hÃÂá falta de aprendizagem fetichista nas mulheres.
Estamos longe de saber porque ÃÂé que alguns estÃÂÃÂmulos sÃÂão passÃÂÃÂveis de ser condicionados e outros nÃÂão. Talvez a aprendizagem em idades mais precoces seja o ponto fulcral a partir do qual o indivÃÂÃÂduo desenvolve associaÃÂçÃÂões mais bizarras apesar de este nÃÂão ser o motivo que leva o objecto do fetiche a ser algo mais do que um estÃÂÃÂmulo condicionado. O objecto representa o pÃÂénis, a referida protecÃÂçÃÂão contra a castraÃÂçÃÂão ou a negaÃÂçÃÂão da falta de um pÃÂénis nas mulheres.
No seu livro Bancroft refere-se a P.Greenacre na medida em que este estabelece uma relaÃÂçÃÂão invariÃÂável entre o fetichismo e um grave complexo de castraÃÂçÃÂão. Algumas vezes os fetiches sÃÂão excessivamente bizarros e nÃÂão podem ser vistos como uma extensÃÂão do corpo mas associados com anormalidades neurolÃÂógicas.
Winnicott sugere a existÃÂência de um objecto transicional, comum a todas as crianÃÂças, fornecido pela mÃÂãe aquando da utilizaÃÂçÃÂão do seu instinto para colmatar as necessidades da crianÃÂça. Este objecto representa a maturaÃÂçÃÂão da crianÃÂça, maturaÃÂçÃÂão essa que se revela quando hÃÂá uma separaÃÂçÃÂão entre o dito objecto e a prÃÂópria mÃÂãe - este processo potencia o aparecimento do fetiche.
Quando surgem dificuldades no desenvolvimento da crianÃÂça ela pode manter-se apegada ao objecto transicional e mantÃÂê-lo atÃÂé àidade adulta. Este apego, com o tempo, reveste-se de perversidade mas representa sempre o seio da mÃÂãe e nunca poderÃÂá transformar-se no verdadeiro fetiche jÃÂá que este ÃÂé um falo mÃÂágico derivado do narcisismo ao qual pertence. Enquanto se mantiver a projecÃÂçÃÂão narcÃÂÃÂsica do pÃÂénis-falo mÃÂágico os fantasmas sexuais nÃÂão se modificam e o ritual de castraÃÂçÃÂão simbÃÂólico ÃÂé repetido incessantemente de uma forma erotizada.
Ismond (1971) propÃÂõe a teoria do fetichismo de acordo com "uma procura selectiva que contÃÂém em si um princÃÂÃÂpio que, impelido ao extremo e desenvolvido de maneira elaborada, ÃÂé tudo quanto observamos nos casos de feiticismo clÃÂÃÂnico". A deslocaÃÂçÃÂões erÃÂóticas ocorre quando o indivÃÂÃÂduo transfere a sua libido da zona genital para outra parte do corpo ou outro objecto .
Fetichismo - objectos e temporalidade "NÃÂão, estou a pensar no teu apelido... porque "Bertgang" quer dizer o mesmo que "Gradiva", ou seja, aquela que resplandece ao andar" in Gradiva O fetichismo estÃÂá dependente do ambiente cultural na medida em que este acompanha a evoluÃÂçÃÂão da sociedade, dos seus hÃÂábitos e dos seus costumes, assim, a cada geraÃÂçÃÂão corresponde um bloco de fetiches.
A ilustrar este ponto Gellman e Tordjman (1989) descrevem uma situaÃÂçÃÂão recorrente em 1914 em que os cortadores de tranÃÂças, predominantes na altura, cortavam as tranÃÂças das raparigas, em locais pÃÂúblicos, e posteriormente masturbavam-se na companhia desse objecto.
Freud refere que o acto de cortar os cabelos ÃÂé um sÃÂÃÂmbolo de castraÃÂçÃÂão muito importante na medida em que o corte se processa sem dor e a castraÃÂçÃÂão ÃÂé negada pelo facto de os cabelos voltarem a crescer.
O fetiche do couro, da borracha e do lÃÂátex predominam e sÃÂão alimentados pelas sex shop que pululam. As meias sÃÂão substituÃÂÃÂdas pelas collants tal como o velocÃÂÃÂpede ÃÂé substituÃÂÃÂdo pela moto cujo barulho que emite ÃÂé mais poderoso e da mesma forma que os espartilhos sÃÂão substituÃÂÃÂdos por soutiens de renda e meia de ligas. "O Sr.V., para ter erecÃÂçÃÂões, tinha necessidade de vestir collants de mulher vermelhos, que rasgava durante a relaÃÂçÃÂão sexual(...)" (Gellman e Tordjman, 1989).
A "EnciclopÃÂédia da Sexualidade" aponta os W.C., as banheiras e os bidÃÂés como os objectos que mais frequentemente servem de fetiche. A mesma fonte afirma, ainda, que a lama pode ser o substituto dos excrementos (motivo vÃÂálido para alguns que continuam a gostar desta prÃÂática) e que o fetiche das cores se manifesta por analogia ao sangue (o vermelho), ao luto (o roxo) e a morte (preto). "O Sr.T. sÃÂó se excitava com a ideia de a sua parceira lhe introduzir o seu dedo grande do pÃÂé, com a unha pintada de vermelho, no ÃÂânus. Ficava igualmente excitado com as mulheres com unhas muito compridas e vermelhas." (Gellman e Tordjman, 1989).
Em 1973, data de publicaÃÂçÃÂão desta enciclopÃÂédia, o fetichismo que imperava entre a geraÃÂçÃÂão mais jovem eram os blusÃÂões negros, as motos e os ciclomotores, os cintos largos e jeans deslavados e camisolas de gola alta.
Os olhos tÃÂêm um papel predominante nas fixaÃÂçÃÂões amorosas pois estabelecem uma relaÃÂçÃÂão directa com o sexo; esta fixaÃÂçÃÂão pode estender-se às orelhas e o beijo do ouvido torna-se mais importante que o olho.
Os sapatos ou as botas sÃÂão um dos sÃÂÃÂmbolos mais marcantes. "O homem e o prazer" descreve uma situaÃÂçÃÂão relacionada com este fetiche: "o Sr.B., homossexual, sÃÂó tinha excitaÃÂçÃÂão sexual com botas de couro. Toda a sua vida psicossexual girava em torno de botas. Passeava-se pela rua olhando unicamente para as boas dos homens e, nas casas de banho das estaÃÂçÃÂões, colocava-se ao lado do homem cujas botas mais lhe agradassem e masturbava-se ao lado dele." As peÃÂças de vestuÃÂário feminino podem gerar fetichismo. Uma situaÃÂçÃÂão com fetichismo de cabedal ÃÂé ilustrado por C.Gellman e Gilbert Tordjman : "O Sr.J.C., de 28 anos, experimenta um grande prazer ao praticar o coito sempre que a sua parceira aceita vestir um longo casaco de couro sobre a pele durante as relaÃÂçÃÂões sexuais (...)" No mesmo documento o motivo deste fetiche ÃÂé destrinÃÂçado: "Este gosto remonta àsua adolescÃÂência; aos 13 anos, sentiu pela primeira vez na sua vida o orgasmo, ao ver-se por acaso apertado contra uma senhora de casaco de cabedal, no metro." ÃÂâ° usual o fetichista preferir, neste caso, vestuÃÂário de cabedal usado, ou de limpeza dÃÂúbia, na medida em que estÃÂá impregnado de fortes odores, nomeadamente de cheiro de transpiraÃÂçÃÂão, que se mistura com o prÃÂóprio cheiro a cabedal.
Ao fetichita a roupa interior interessa-lhe na media em que ode ser vestida e depois araca: ela castra o pÃÂénis quando se veste e restaura-o quando rasga as roupas expondo, visivelmente, o ÃÂórgÃÂão sexual.
A borracha ÃÂé uma das mais frequentes formas de fetichismo (Bancroft, 1989) nomeadamente peÃÂças de roupa feitas deste material ou feitas de plÃÂástico brilhante.
Em 1965 Von Kraft-Ebbing aponta as peles, veludo e sedas como o tipo de texturas mais comummente apreciadas.
Chalkley & Powell, em 1983, encontraram 48 casos de fetichismo em que dezassete dos indivÃÂÃÂduos tinham um fetiche, nove tinham dois e os restantes vinte e dois revelavam trÃÂês ou mais.
Gosselin & Wilson, em 1980, efectuaram um estudo sobre fetiches com borracha do qual concluÃÂÃÂram que o interesse por material se desenvolve na idade compreendida entre os quatro e os dez anos. A especificidade deste estudo permitiu, tambÃÂém, concluir que grande parte destes indivÃÂÃÂduos desenvolveram esta preferÃÂência nos princÃÂÃÂpios da II Grande Guerra e as causas apontadas resultam do sentimento de ansiedade provocado pelas circunstÃÂâncias bem como a ausÃÂência do pai e a presenÃÂça exacerbada da mÃÂãe mas tambÃÂém a proliferaÃÂçÃÂão de artigos fabricados com borracha - muito usados na altura.
Os pÃÂés sÃÂão a forma de fetichismo mais cÃÂélebre: desde todos os poetas que apelaram a esta parte do corpo atÃÂé aos chineses que elevaram este culto a instituiÃÂçÃÂão provocando todas as mutilaÃÂçÃÂões que daÃÂàresultaram.
O trabalho freudiano sobre a novela de Wilhelm Jensen ÃÂé largamente conhecido e propÃÂõe-se a interpretar o sonho que um arqueÃÂólogo desenvolve em torno dos pÃÂés de um baixo-relevo.
No relatÃÂório de Kinsey um dos fetiches abordados tem a ver com pÃÂés. Um rapaz de vinte e poucos anos desde os nove que se sente atraÃÂÃÂdo por pÃÂés de mulheres, principalmente pelo seu cheiro, meias e sapatos impregnados do odor da transpiraÃÂçÃÂão. A masturbaÃÂçÃÂão ÃÂé uma consequÃÂência ÃÂóbvia e o conselho que ÃÂé dado por Kinsey passa, uma vez mais, pela consulta de um terapeuta no sentido de atenuar problemas como a ansiedade, o sentimento de culpa e vergonha ou o stress e consequÃÂências negativas na vida social, na vida escolar, nas relaÃÂçÃÂões amigÃÂáveis e familiares mas tambÃÂém na vida amorosa.
Fritz Kahn descreve o fetichista dos sapatos como um indivÃÂÃÂduo que quando vÃÂê um "pÃÂé de mulher bem calÃÂçado" se excita e o seu primeiro impulso, ao iniciar os jogos amorosos, ÃÂé beijar o sapato dela. Este mesmo autor muitas das prostitutas das grandes cidades usam sapatos altos e de cor berrante por causa dos fetichistas.
Fritz acrescenta, ainda, mais dois tipos de fetichistas, o dos vestidos e o dos cabelos. O primeiro verifica-se quando o fetichista tem um grande prazer ao guardar um pedaÃÂço de um vestido, jÃÂá usado pela mulher "eleita", e que busca prazer atravÃÂés do mesmo. Quanto ao fetichista dos cabelos Fritz define-o como um "caÃÂçador de madeixas" que obtÃÂém prazer quando se passeia ao lado de raparigas com tranÃÂças, por exemplo, em que a finalidade ÃÂé cortar o cabelo das mesmas e guardÃÂá-lo como se de um trofeu se tratasse.
No Kinsey Report sÃÂão abordados fetiches com cabelos, nomeadamente um homem com 34 anos, que desde os seis anos de idade revelou alguma preferÃÂência por estes chegando a tirar um curso de cabeleireiro. Este fetiche nÃÂão constitui um problema a nÃÂão ser que o cabelo se torne a ÃÂúnico objecto de interesse sexual ou que este mesmo interesse interfira com a vida quotidiana. Se o indivÃÂÃÂduo se torna incapaz de desenvolver uma relaÃÂçÃÂão com um parceiro que nÃÂão tenha cabelo comprido e se nÃÂão desenvolver interesse numa pessoa real a sugestÃÂão de Kinsey ÃÂé a de que este procure um terapeuta no sentido de tentar encontrar outras formas de resposta sexual.
Raymond (1956) escolhe um caso de fetichismo cujo objecto eram carrinhos de bebÃÂés. O perverso, processado por diversas vezes, tinha como objectivo sujar o carrinho e a pessoa que o empurrava e nÃÂão perdia a oportunidade de passar com o automÃÂóvel por uma poÃÂça lamacenta.
Bak, em 1953, pÃÂõe em relevo a teoria fetichista e demonstra a dupla concepÃÂçÃÂão da mÃÂãe: uma mÃÂãe enquanto um ser provido de pÃÂénis e outra como um ser privado do mesmo. O rapaz por vezes identificava-se ora com o ser materno fÃÂálico, ora com a outra, ora com as duas. A identificaÃÂçÃÂão com a mÃÂãe castrada leva o rapaz a desejar renunciar ao prÃÂóprio pÃÂénis o que conduz a um conflito com o orgulho narcÃÂÃÂsico da sua posse e com o desejo de o conservar. Quanto àidentificaÃÂçÃÂão com a mÃÂãe dotada de um pÃÂénis era tido como uma protecÃÂçÃÂão contra o desejo inconsciente de se desfazer do pÃÂénis para manter intacta a identidade materna.
Em 53 tambÃÂém Greenacre efectua um estudo que dÃÂá frutos importantes para o apuramento teÃÂórico desta perversÃÂão. A ansiedade e as condiÃÂçÃÂões em que se tende a produzir este tipo de comportamento , na crianÃÂça nomeadamente e os distÃÂúrbios na funÃÂçÃÂão da crianÃÂça devido a anomalias anatÃÂómicas podem originar deslocaÃÂçÃÂões e acentuaÃÂçÃÂões da funÃÂçÃÂão libidinosa que levam a formas especiais de satisfaÃÂçÃÂão e fixaÃÂçÃÂão.
A relaÃÂçÃÂão especial em que se encontra o fetichista na observaÃÂçÃÂão do objecto tem uma importÃÂância fulcral e nela se encontram vÃÂários factores: hÃÂá uma fuga de um objecto completo e humano para apenas uma parte do mesmo ou para qualquer outro objecto inanimado. O objecto substituÃÂÃÂdo apresenta outras vantagens vitais porque protege o fetichista da angÃÂústia da castraÃÂçÃÂão, estÃÂão ligadas àsua preocupaÃÂçÃÂão de conservar intacto o objecto original do amor: a mÃÂãe.
O fetichismo nos homens e nas mulheres Kinsey em 1953 constatou no seu famoso trabalho que o fetichismo era raro em mulheres e sÃÂó mais tarde, em 1983, que Stoller descreveu trÃÂês casos de fetichismo em mulheres, travestismo fetichista, mais precisamente.
A "EnciclopÃÂédia da Sexualidade" descreve trÃÂês fetiches nas mulheres: a estatura masculina, quanto mais alto melhor (remete a beleza para segundo plano); a voz (porque as mulheres sobrepÃÂõem a audiÃÂçÃÂão e o tacto àvisÃÂão) e a barba ou bigode (que aponta ser um sinal de virilidade indispensÃÂável para algumas mulheres).
Quanto ao olfacto, este desempenha um papel importante para as mulheres pois sÃÂão mais sensÃÂÃÂveis a odores como o de transpiraÃÂçÃÂão ou de sexo.
O mesmo texto faz alusÃÂão ao fetichismo feminino cujo alvo sÃÂão as vedetas. Gravatas e pedaÃÂços de roupa que sÃÂão arrancados ao ÃÂÃÂdolo, fotografias, autÃÂógrafos e dedicatÃÂórias. Mas o objecto de fetichismo que ÃÂé apontado como o que mais prolifera ÃÂé a braguilha e estÃÂá ligada às formas que essa parte das calÃÂças masculinas pode revelar.
O toque ÃÂé um instrumento com o qual muitos homens tÃÂêm dificuldades em lidar (C.Gellman e G.Tordjman, 1989) e acabam por centrar as suas sensaÃÂçÃÂões no pÃÂénis, o que conduz a uma situaÃÂçÃÂão deficiente. Esta insuficiÃÂência ÃÂé colmatada atravÃÂés da fantasmagoria e da perversÃÂão, daÃÂàque fetichismo seja mais predominante nos homens do que nas mulheres.
"O desejo masculino, frÃÂágil e precÃÂário, tem necessidade de se apoiar nos voos do imaginÃÂário. O cenÃÂário erÃÂótico permite ao homem exprimir a sua componente de hostilidade ao mesmo tempo que demonstra a sua vontade de poder" (op.cit.).
Uma das grandes diferenÃÂças entre homens e mulheres ÃÂé que quanto mais bizarro o tipo de fetichismo preferido por eles, mais raro ÃÂé entre as mulheres (se ÃÂé que alguma vez chega a revelar-se). No entanto as mulheres desenvolvem preferÃÂências homossexuais ou tendÃÂências sadomasoquistas mais facilmente apesar de nÃÂão desenvolverem fetiches relacionados com o exibicionismo ou o voyeurismo (John Bancroft, 1989).
Sydney Stewart considera o fetichismo uma perversÃÂão masculina porque o pÃÂénis pode ser visto separado do corpo e, quando tal acontece, ele ÃÂé dotado de "virtudes mÃÂágicas", num ÃÂâmbito narcÃÂÃÂsico. PorÃÂém o terror da castraÃÂçÃÂão ÃÂé sentido de forma real e em relaÃÂçÃÂão a um pÃÂénis real.
Em "A diferenÃÂça anatÃÂómica entre os sexos" Freud fornece-nos a chave do fetichismo na medida em que o fantasma de ser batido remete , nas raparigas, para o perÃÂÃÂodo fÃÂálico e pode ser interpretado de forma a que a crianÃÂça ÃÂé o prÃÂóprio clitÃÂóris.
O fetichismo masculino, pela sua diferenÃÂça anatÃÂómica, reÃÂúne duas particularidades: o elemento do deslocamento e o fetiche. Neste caso o falo-mÃÂágico bate ou acaricia o pÃÂénis do homem pois ÃÂé o representante mais poderoso do seu sexo e as qualidades sÃÂádicas e anais estÃÂão sempre presentes na medida em que estas sÃÂão um factor inerente àexistÃÂência e continuidade do fetiche.
"Partialism" Pode-se apontar trÃÂês categorias de sinais sexuais ou estÃÂÃÂmulos sendo o primeiro o "partialism", depois partes inanimadas vistas como extensÃÂões do corpo (como por exemplo uma qualquer peÃÂça de roupa) e, por fim, uma fonte especÃÂÃÂfica de estimulaÃÂçÃÂão tÃÂáctil como a textura de um material especÃÂÃÂfico.
A primeira categoria considerada por Bancroft inclui o interesse por partes especÃÂÃÂficas do corpo sendo que esse interesse pode vir a estender-se a outras partes do corpo ou, ao corpo como um todo.
A predilecÃÂçÃÂão por mÃÂãos ou partes mais ÃÂÃÂntimas como as pernas ou o rabo revelava o grau de exposiÃÂçÃÂão corporal permitida hoje em dia.
Quando as sensaÃÂçÃÂões erÃÂóticas estÃÂão ligadas a uma qualquer parte do corpo e sÃÂão extremas a ponto de eliminar a pessoa humana, entÃÂão, segundo Freud, estamos na presenÃÂça de uma patologia ligada ao medo de castraÃÂçÃÂão do rapaz. Este medo ÃÂé-lhe dado a conhecer quando verifica que a sua mÃÂãe ÃÂé "castrada" e essa ausÃÂência do falo constitui uma ameaÃÂça sÃÂéria àintegridade dos ÃÂórgÃÂãos genitais em si. Este medo de castraÃÂçÃÂão leva o rapaz a desenvolver defesas mediante o mecanismo de recusa e a renunciar àcrenÃÂça no falo feminino e imagina, naquele lugar de "falta", um "feitiÃÂço". O "feitiÃÂço" representa, entÃÂão, o falo materno no qual ele pode confiar e no qual ele concentra toda a sua energia erÃÂótica alÃÂém de representar uma parte da sexualidade infantil retirada do Ego enquanto afasta toda a restante sexualidade - revelando a angÃÂústia da castraÃÂçÃÂão freudiana .
O travesti fetichista O travestismo fetichista aplica-se com mais frequÃÂência a homens, talvez raramente a mulheres, que usam roupas femininas como objectos de fetiche. Para estes as roupas sÃÂão, per si, sexualmente estimulantes e a maior parte das vezes levam-no àmasturbaÃÂçÃÂão o que faz com que o travestismo, neste caso, seja visto como um acto sexual.
ConvÃÂém, ainda, aqui mencionar que existem outros tipos de travestismo nÃÂão fetichista como ÃÂé o caso do travesti de double-role em que o indivÃÂÃÂduo passa grande parte da sua vida a vestir-se e a fazer-se passar por mulher.
O homossexual travesti sente-se atraÃÂÃÂdo por pessoas do mesmo sexo e veste-se com roupas do sexo oposto nÃÂão tanto pelo fetichismo em si mas muitas vezes porque ÃÂé uma forma de caricaturar.
Por fim, o transsexual que acredita ser do sexo oposto e pretende ser aceite como tal, por isso, veste-se no intuito de expressar a sua preferÃÂência.
O acto de vestir roupa do sexo oposto ÃÂé, nos fetichistas, um acto de idealizaÃÂçÃÂão em que se imaginam com peito e vagina, no caso dos homens, que na maior parte das vezes nÃÂão pretendem enfatizar ou olhar para os seus ÃÂórgÃÂãos genitais mas antes perpetuar o padrÃÂão.
O indivÃÂÃÂduo que vÃÂê este como um acto fetichista pode continuar a mostrar um padrÃÂão muito simplista ao usar apenas uma peÃÂça de roupa feminina, normalmente roupa interior, ou pode comeÃÂçar a usar cada vez mais àmedida que o tempo vai passando. A finalidade ÃÂé criar a ilusÃÂão, ou convencer-se, de que ÃÂé uma mulher. Com o tempo este pode comeÃÂçar a mostrar maior interesse em identificar-se com o sexo oposto.
Fenichel em 1930 procurou demonstrar que o travestismo funde as manobras defensivas do feiticista com o homossexual. O homossexual resolve o seu desejo de posse da mÃÂãe identificando-se com ela ao passo que o fetichista nÃÂão aceita a falta do pÃÂénis na mÃÂãe e o travesti masculino, nas suas fantasias, concebe a mulher como um ser provido de pÃÂénis com a finalidade de destruir a angÃÂústia de castraÃÂçÃÂão alÃÂém de se identificar com esta mulher fÃÂálica. Esta dupla defesa descrita por Fenichel encontra-se tambÃÂém em casos de fetichismo.
Ismond Rosen descreve as fantasias masturbatÃÂórias de um dos seus pacientes em que eram associadas fantasias fetichistas com fantasias masoquistas, o fetichismo neste caso estava associado a um uniforme impermeÃÂável que o paciente gostava e admirava nas mulheres. A parte sado-masoquista consistia no facto de uma mulher ser obrigada a vestir o uniforme e isto era tido como uma humilhaÃÂçÃÂão àqual se associava uma puniÃÂçÃÂão.
Fetichismo: terapias Raros sÃÂão os casos de fetichismo ou sadomasoquismo que aparecem nas clÃÂÃÂnicas na medida em que, em princÃÂÃÂpio, estes indivÃÂÃÂduos nÃÂão pretendem alterar a sua condiÃÂçÃÂão.
Os fetichistas, ao contrÃÂário dos homossexuais, nÃÂão sÃÂão submetidos ao mesmo estigma social, no entanto, as razÃÂões que os levam a procurar ajuda ainda ÃÂé um campo por desbravar.
Bancroft refere o caso de indivÃÂÃÂduos casados que procuram ajuda devido àpressÃÂão exercida pela sua mulher embora ele seja relutante em alterar o seu estado. No entanto, o contrÃÂário tambÃÂém acontece: o parceiro ou parceira pode aceitÃÂá-los e atÃÂé gostar.
Muitas vezes o padrÃÂão do fetichista ou do sadomasoquista acentua-se por causa das dificuldades das suas vidas sexuais mas quando a relaÃÂçÃÂão corre bem as tendÃÂências sexuais tendem a perder a sua importÃÂância.
Umas das grandes dificuldades encontradas no tratamento de um fetichista tem a ver com o fantasma na sua representaÃÂçÃÂão, que parece ser uma coisa, e na sua significaÃÂçÃÂão, que apresenta caracterÃÂÃÂsticas contraditÃÂórias. A primeira defesa do paciente ÃÂé recusar a interpretaÃÂçÃÂão que o terapeuta faz porque ele acredita que o contrÃÂário ÃÂé que estÃÂá correcto, o contrÃÂário ÃÂé que ÃÂé verdadeiro. O papel do pai torna-se pouco relevante perante o papel da mÃÂãe porque esta ÃÂúltima ÃÂé representada como uma pessoa forte e dominadora, capaz de tomar decisÃÂões directamente relacionadas com a famÃÂÃÂlia. Esta observaÃÂçÃÂão potencia a existÃÂência de uma ligaÃÂçÃÂão sÃÂádica-oral com a mÃÂãe que favorece uma anÃÂálise mais profunda. O recalcamento do complexo de ÃÂâ°dipo tambÃÂém conduz, paralelamente, a uma recusa real de qualquer relaÃÂçÃÂão com o pai.
Ismond refere-se àterapia do fetichismo atravÃÂés do mÃÂétodo apresentado em 1956 por Raymond que pensou que estes perversos poderiam ser condicionados por forma a oporem-se, com ÃÂódio, ao seu objecto de amor. O tratamento passava por apresentar ao fetichista cada duas horas o objecto do seu fetichismo e simultaneamente administrar-lhe injecÃÂçÃÂões de apomorfina e de hidroclorito emetÃÂÃÂnico para, assim, fazer coincidir a excitaÃÂçÃÂão com a nÃÂáusea. Este tratamento durava quatro ciclos de cerca de trÃÂês dias cada fazendo intervalos inter-cÃÂÃÂclicos de dois dias atÃÂé que se verificava no paciente uma crise emotiva que o levava àrejeiÃÂçÃÂão do seu objecto. Ismond revela, ainda, que o tratamento de Raymond teve sucesso e o seu trabalho foi publicado dezanove meses apÃÂós a "cura" de um paciente.
Este mÃÂétodo ÃÂé, obviamente, um mÃÂétodo que recorre ao condicionamento para fazer com que o paciente comece a associar o objecto sexual a um estÃÂÃÂmulo desagradÃÂável (provocado pela injecÃÂçÃÂão). O pervertido pode ser considerado averso ao acto sexual porque na sua mente estÃÂá criada a associaÃÂçÃÂão ao perigo.
Wolpe e Rachman em 1958 e 1960, respectivamente, desenvolveram tÃÂécnicas de descondicionamento inter alia para as perversÃÂões sexuais. Wolpe afirma que em certos casos a perversÃÂão ÃÂé tanto uma "neurose" fechada como a expressÃÂão de um problema pessoal.
ConclusÃÂão O estudo do fetichismo ÃÂé assaz relevante para o estudo e compreensÃÂão de outras perversÃÂões.
Autores como Nancy Friday contribuiram de forma relevante para estabelecer no mapa as fantasias sexuais dos homens atravÃÂés de escritos como " O homem e o amor".
Freud desenhou as linhas gerais do fetichismo e situou a origem destas perversÃÂões na infÃÂância, uma altura em que a crianÃÂça estÃÂá mais exposta às "novidades" anatÃÂómicas.
Mais autores conseguiram contribuir para o aprofundamento da origem, desenvolvimento e terapias do fetichismo mas, hoje em dia, noto uma certa carÃÂência de estudos e teorias visÃÂÃÂveis que demonstrem, de alguma forma, como ÃÂé que evoluiu este tipo de perversÃÂão.
Seria necessÃÂário continuar um trabalho antes iniciado por tantos autores por forma a ser dado a conhecer novos casos, novas terapias e novas aceitaÃÂçÃÂões da sociedade, na medida em que com o alongar dos tempos, com o devir das matÃÂérias, novos fetiches vÃÂão sendo mediatizados e, por isso, banalizados; o que leva a uma diminuiÃÂçÃÂão do impacto que certas perversÃÂões causa nas pessoas.
O estigma social que envolve s homossexuais, no entanto, nÃÂão se verifica em relaÃÂçÃÂão aos fetichistas por razÃÂões nÃÂão conhecidas e que, talvez, sÃÂão suficientemente interessantes para averiguar.
Apenas se pode especular acerca deste "fenÃÂómeno" mas o certo ÃÂé que na sua origem pode estar o elevado grau de exposiÃÂçÃÂão dos homossexuais e, de certa forma, a aceitaÃÂçÃÂão parcial dos fetichistas no sentido em que lhes sÃÂão disponibilizados "instrumentos" em lojas como as sex shop. De alguma forma ÃÂé neste tipo de locais que vemos o culminar do fetichismo. A abundÃÂância de objectos mais ou menos interessantes, consoante a perspectiva do fetichista, leva a que o fetichismo se torne uma espÃÂécie de culto que ÃÂé alimentado com novidades.
Os avanÃÂços tecnolÃÂógicos podem promover a actualizaÃÂçÃÂão dos estudos nesta ÃÂárea. Nota-se jÃÂá uma certa necessidade de proceder àrenovaÃÂçÃÂão do material existente na medida em que este jÃÂá se encontra obsoleto.
Os estudos mais recentes datam dos anos 80 e jÃÂá pede renovaÃÂçÃÂão. Torna-se necessÃÂária uma reorganizaÃÂçÃÂão dos estudos sobre o fetichismo e um upgrade que reflicta os dias de hoje, atÃÂé porque a sociedade de entÃÂão evoluiu e hoje a mentalidade e disponibilidade fetichista ÃÂé melhorada por outros agentes, como os media, nomeadamente a televisÃÂão que impÃÂõe factores decisivos aos mais susceptÃÂÃÂveis.
Fetichismo - Bibliografia Friday, Nancy; O homem e o amor - fantasias sexuais masculinas - o triunfo do amor sobre a raiva; Difel Editores; 2ÃÂê ediÃÂçÃÂão; s/data; 1981 Freud, Sigmund; DelÃÂÃÂrio e sonhos na Gradiva de Jensen; Gradiva; Lisboa; 1995 Reuben, David R.; Tudo o que vocÃÂê sempre quis saber sobre o sexo; CÃÂÃÂrculo de Leitores; s/local; 1969 M`Uzan, Michel e outros; A sexualidade perversa; Vega Universidade; Lisboa; s/data Ismond, Rosen; Os desvio sexuais; Editora Meridiano; Lisboa;1971 Reinisch, June M. e Beasley, Ruth; The Kinsey Institute New report on sex; Penguin Books; New York; 1990 Tiefer, Leone; Human sexuality - feeling and functions; Harper & Row Publishers; 1979 The journal of sex research; vol 36; nÃÂú3; August 1999 Verdiglione, Armando; Sexualidade e Poder; EdiÃÂçÃÂões 70; 1976 EnciclopÃÂédia da Sexualidade; Moraes Editores; vol II; Lisboa ; 1973 Byrne, Donn e Kelley Kathlyn; Alternative approaches to the study of sexual behaviour; New Jersey; Lawrence Elbourn Associates Publishers; 1986 Costa, McCrae and; Handbook of personality; S/local; Bancroft, John; Human sexuality and its problems; 2ÃÂêediÃÂçÃÂão; Edinburgh; Churchill Livingstone; 1989 Bancroft, John; Researching sexual behaviour: methodological issues; Bloomington; Indiana University Press; 1997 Raymond, M.J.; Case of fetishism treated by aversion therapy; British Medical Journal; nÃÂú2